No dia a dia das avaliações como Médico Perito para fins da CNH, percebo que as pessoas abraçaram e acolheram as mudanças esdrúxulas em relação à CNH. Ao mesmo tempo, ficam intrigadas e sem argumentos consistentes quando apresento meu ponto de vista sobre o violento cenário do trânsito brasileiro e os prováveis e terríveis impactos de agravamento da situação atual, que serão constatados nos anos seguintes à flexibilização das regras e normas vigentes.
Sinto uma enorme e angustiante impotência diante desse comportamento, quase generalizado, dos condutores e condutoras que agem com egoísmo e imediatismo. Mesmo com todas as evidências gritantes e recorrentes que demonstram claramente a necessidade urgente de uma mudança global no contexto do trânsito. Mas, que passa por um aprimoramento, aperfeiçoamento e fiscalização intensificados e continuados, através das leis e instituições responsáveis pelo sistema viário.
Quando vejo os parlamentares votando e decidindo os rumos que serão adotados nessa política pública específica, totalmente dissociados da realidade dos fatos e evidências científicas, em sua grande maioria, fico entristecido e acuado em minha parca relevância. Como se estivesse assistindo a uma encenação de tragicomédia, onde pouquíssimas e sensatas vozes são abafadas pelos falastrões desinformados, irresponsáveis e inconsequentes.
Como não se trata de uma peça teatral, mas, um acachapante e desafiador momento que vivenciamos, precisamos unir todos os nossos esforços no sentido de defendermos nossas posições no exercício da medicina preventiva para o trânsito. Quiçá, sensibilizar a população em geral sobre a importância de uma discussão mais ampla e democrática sobre tema tão fundamental para a preservação de vidas, já que desaguará no nosso tão sobrecarregado Sistema Público de Saúde.
Sigamos juntos, nessa jornada de mobilização nacional, em defesa de propostas que visem a manutenção da vida que desloca nessa complexa rede viária, e não a desconstrução de uma consciência preventiva que vem, lenta e gradualmente, sendo assimilada pela nossa sociedade!
Autor do texto: Milton Teixeira Filho
Médico de Tráfego e Pediatra
Montes Claros, 05/12/2020