As cidades vão parar?

Pesquisadores de Londres mostram que produção de veículos no mundo vem aumentando mais que a população e defendem ampliação do uso de transporte público e outras alternativas.

“As cidades devem se livrar dos carros para serem habitáveis no futuro”. Essa é a conclusão de uma equipe de urbanistas e ambientalistas da Universidade College de Londres, a que o grupo chegou a partir de uma pesquisa que mostrou que o número de carros produzidos no mundo está aumentando mais rapidamente do que a população. Seguindo modelos matemáticos e pensando o futuro, os especialistas afirmam que se nada for feito para reverter o quadro as cidades podem parar.

Na pesquisa * eles citam dados de 2019, quando 80 milhões de carros foram produzidos no planeta enquanto a população aumentou em 78 milhões. E, embora a produção mundial tenha declinado nos anos posteriores, os pesquisadores alertam que é preciso que os países dediquem maior atenção ao planejamento urbano e que condutores e pedestres repensem o próprio comportamento. 

No Brasil, a produção de veículos diminuiu nos últimos anos, mas uma retomada é esperada. Ainda assim, os números são elevados: 2,05 milhões de carros foram produzidos no país em 2020, quase o mesmo número de nascimentos (2,6 milhões).

Para lastrear suas conclusões, o grupo criou um modelo matemático de uso de automóveis e de transporte público em uma cidade fictícia, considerando o tempo demandado pelas viagens.  O cenário proposto permitiu testar situações extremas, como a de uma cidade com 50 milhões de habitantes e 50 milhões de carros, onde todos os moradores usam o carro diariamente para reduzir o tempo de deslocamento.

Além das exigências insuportáveis em termos de custos de infraestrutura – como avenidas, pontes e estacionamentos -, observou-se que os congestionamentos, inevitavelmente, travariam a circulação. Ainda segundo o estudo, a redução do uso dos carros nas cidades depende principalmente de oferecer aos cidadãos mais opções de viagens, além de estabelecimentos comerciais e de serviços locais, que limitem os deslocamentos.

As sugestões apontam ainda a urgência de uma mudança de paradigma do comportamento do condutor, que deve ser encorajado a praticar caminhada e ciclismo como principais meios de transporte, e a adoção de um modelo de planejamento urbano que reduza a dependência de carros.

Principais Dicas

Sempre que possível, adote o transporte público coletivo como principal meio de transporte, em contraposição à adoção de veículos motorizados individuais, carros e motos.

–  Bicicleta e caminhada são alternativas saudáveis e cidadãs, que contribuem com o meio ambiente e com a saúde.

–  As cidades precisam de um planejamento urbano que leve em conta a redução da dependência de carros e a ampliação e melhoria do transporte público.

*A paradox of traffic and extra cars in a city as a collective behaviour, artigo assinado por Rafael Prieto Curiel, Humberto González Ramírez, Mauricio Quiñones Domínguez e Juan Pablo Orjuela Mendoza, publicado na revista Royal Society Open Science (DOI: 10.1098/rsos.201808).

Crédito imagem: freepik