Médico do tráfego reforça a importância de uma avaliação rigorosa dos condutores e o papel de todos os agentes.
A pandemia, o empobrecimento econômico e a mudança brusca no cotidiano, principalmente no trabalho, trouxeram grande impacto na vida das pessoas e, consequentemente, no comportamento dos condutores.
Um estudo realizado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e publicado pela revista The Lancet, por exemplo, aponta que somente os casos de depressão aumentaram 90%. Além disso, o número de pessoas que relataram sintomas como crise de ansiedade e estresse agudo mais que dobrou entre os meses de março e abril deste ano.
O médico especialista em Medicina do Tráfego, João Batista Horta Murta, lembra que o ser humano é psicossocial, ou seja, tem uma constelação de necessidades sociais, emocionais e de saúde. “Ele não é só carne e osso, espírito e ambiente. Ele é uma mistura destas três coisas. E como é o ser humano que conduz o veículo, ele tem que estar com essas três variáveis estabilizadas, porque elas interagem entre si, o tempo todo”.
Diante do contexto atual, o especialista enfatiza ainda a importância dos profissionais envolvidos na avaliação do condutor e a necessidade de uma verificação rigorosa. “Historicamente, no início do século XX, não existia nenhum tipo de controle. A partir dos anos 40 a psicologia assumiu este papel, no sentido de avaliar as funções do motorista. Com o tempo, a medicina também entrou neste trabalho, que é multidisciplinar e envolve vários agentes, como a engenharia de trânsito e polícias”, destaca.
Em sua visão, o mundo de hoje é muito ativo e corrido. “Há pouco tempo para lazer e família e muito tempo dedicado ao trabalho, além do período que se perde no trânsito”. Para o especialista em medicina do tráfego, a população tem se tornado cada vez mais agressiva. “Eu acredito que isso esteja acontecendo devido ao empobrecimento da população, não só financeiramente, mas culturalmente. Na verdade, são as condições do país que a gente vive. E se a condição social começa a ruir, a condição psicológica e orgânica também. É o efeito dominó”.
Avaliação rigorosa
O médico destaca a necessidade de uma avaliação rigorosa. “Você tem que estar em condições de ser um agente ativo e respeitoso no trânsito, seja pedestre, ciclista ou condutor”, reforça.
Ele lembra ainda que, hoje, 12% dos acidentes de trânsito são causados por doenças que acometem o ser humano, como, por exemplo, a diabetes e a hipertensão. “E são doenças que tem que ter um controle rigoroso. O diabetes, por exemplo, pode causar hipoglicemia e, assim, a pessoa pode ter uma crise convulsiva, um desmaio. E até complicações tardias, como uma cegueira súbita. Esta é uma das causas que faz com que a gente reduza o prazo para reavaliação do condutor”.
Outra doença é a hipertensão: “Se a pessoa não toma seu medicamento diariamente, ela aumenta a incidência de ter um infarto, por exemplo”.
O médico aponta caminhos que não estão associados apenas à questão individual, mas coletiva. “Educação passa por aprender também a conviver e a resolver conflitos. Passa pela questão de civilidade e respeito. Em outras palavras, de compreender que o motorista, por exemplo, de uma cegonheira, não é responsável apenas pela segurança dele, mas pela segurança do motorista do ônibus, do carro, da moto, do ciclista e, claro, pela segurança do pedestre”.
João Batista chama atenção para a responsabilidade. “Quando maior a categoria do condutor, maior é o veículo, o peso e também a responsabilidade dele com o trânsito”. O profissional enfatiza também que o trânsito não é só de responsabilidade de quem conduz um veículo, mas de todos aqueles que fazem parte dele.
Entrevista completa
O vídeo foi feito pelo roteirista e diretor, Rodolfo Magalhães. “Faço parte de uma organização civil com atuação nas áreas de educação, cultura e saúde. Produzimos vídeos que abordam esses temas de forma acessível para um público amplo”.
Ele explica como surgiu a ideia do convite: “Numa conversa sobre comportamento durante a pandemia, surgiu o assunto da educação e civilidade no trânsito. Assim, buscamos na ACTRANS-MG a fala de um especialista que pudesse nos orientar e convidamos o médico João para depor”.
Ainda segundo Rodolfo, as cenas, pesquisadas na internet, serviram de base para uma avaliação mais criteriosa da importância da saúde e equilíbrio para todos que compõem o trânsito.
Confira a entrevista completa do médico especialista em medicina do tráfego, João Batista Horta Murta, em nossa página do YouTube.