Carlos Luiz Souza
Durante o sono, nosso organismo realiza funções restauradoras essenciais, como a reparação de tecidos e músculos, a síntese de proteínas, a reposição de energias e a regulação do metabolismo. A privação de sono impede que essas funções sejam realizadas adequadamente, o que pode afetar tanto a saúde física quanto a mental do indivíduo.
Segundo o Ministério da Saúde, a falta de sono pode causar prejuízos significativos à memória, atenção e aprendizado. Estudos científicos indicam ainda que a privação de sono está associada a doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes, obesidade e desequilíbrios hormonais, além de enfraquecimento do sistema imunológico.
Numa sociedade que normaliza o cansaço, é preciso entender que ele se torna perigoso quando é excessivo ou persistente. A sobrecarga física e mental pode estar relacionada ao excesso de trabalho, mas também a questões emocionais, como ansiedade, estresse e depressão. O cansaço extremo compromete a concentração e a motivação, tornando a condução de veículos uma atividade arriscada.
Para motoristas profissionais, que muitas vezes enfrentam longas jornadas de trabalho, a privação de sono pode ser particularmente perigosa por causa das consequências devastadoras para a segurança no trânsito.
Motoristas cansados não estão em plena capacidade de perceber estímulos e tomar decisões rápidas, o que é crucial para a segurança no trânsito. A privação de sono e o cansaço podem comprometer a percepção e a leitura das sinalizações de trânsito, resultando em acidentes graves. Além disso, essas condições podem levar a comportamentos imprudentes devido à irritabilidade e às alterações de humor.
Algumas ações podem ajudar a melhorar a qualidade do sono. Essas práticas, conhecidas como “higiene do sono”, preveem o estabelecimento de horários bem definidos para dormir e acordar, mesmo nos fins de semana, e cuidados como não consumir bebidas estimulantes, como cafeína, chocolate e bebidas alcoólicas, antes de dormir.
Recomenda-se, ainda, uma alimentação leve durante a noite, a prática de exercícios físicos regularmente (evitar atividades intensas próximo à hora de dormir) e a desconexão das telas, como celulares, tablets e TV, antes de dormir.
Mas, além das práticas de higiene do sono, é fundamental que as empresas de transporte adotem uma gestão de pessoas e processos que respeite os limites humanos e a legislação vigente, como a chamada Lei do Descanso. Condições de trabalho mais saudáveis ao volante resultam em menos problemas de saúde relacionados ao sono e ao cansaço, beneficiando tanto os motoristas quanto a segurança no trânsito.
*Carlos Luiz Souza é psicólogo especializado em Psicologia do Trânsito e vice-presidente da Associação de Clínicas de Trânsito do Estado de Minas Gerais (ACTRANS-MG).