Precisamos descontruir mitos sobre mulheres ao volante

Adalgisa Lopes*

A relação das mulheres com o volante sempre foi permeada por estereótipos e preconceitos. Frases como “mulher no volante, perigo constante” ecoam em tom de piada, mas escancaram o machismo e uma realidade desafiadora enfrentada por milhões de motoristas diariamente.

Estudos revelam um cenário diferente do senso comum. As mulheres, frequentemente taxadas como más motoristas, demonstram ser mais cautelosas e menos agressivas no trânsito, o que se traduz em estatísticas de acidentes que as favorecem. A prudência feminina, antes vista como sinônimo de lentidão, se revela um fator crucial para a segurança viária.

Apesar de dividirem o espaço nas ruas e estradas, homens e mulheres possuem diferentes percepções espaciais. Enquanto homens tendem a se guiar por uma lógica geocêntrica, utilizando pontos de referência para se localizar, as mulheres utilizam uma perspectiva egocêntrica, focando em detalhes e pontos de referência específicos. Essa diferença, longe de ser uma desvantagem, demonstra a capacidade feminina de navegação e memorização.

No Brasil, 50,2% de motoristas habilitados são mulheres, no entanto, eles se envolvem muito mais em acidentes e provocam mais mortes no trânsito que elas. O descompasso entre os números de acidentes, mortes e feridos em ocorrências envolvendo homens e mulheres é enorme. 

Os estudos mostram que mulheres são mais prudentes e os dados comprovam esses estudos. Ainda assim, há uma grande desigualdade no tratamento entre homens e mulheres no trânsito.

Para aqueles que insistem em mandar mulher pilotar fogão, é bom lembrar que a história da indústria automobilística é marcada pela presença feminina. Bertha Benz, esposa do criador do primeiro automóvel, Karl Benz, desafiou convenções sociais e realizou a primeira longa viagem de carro em 1888, demonstrando a capacidade feminina de dominar a máquina e desbravar novos caminhos.

Florence Lawrence, atriz e inventora, revolucionou a segurança veicular com a criação das setas e da luz de freio, enquanto Mary Anderson, em 1903, patenteou o limpador de para-brisa, inovação fundamental para a visibilidade em dias de chuva. Essas mulheres visionárias desafiaram o status quo e deixaram um legado incontestável no mundo automotivo.É preciso reconhecer e valorizar a habilidade e a importância das mulheres ao volante, promovendo um ambiente de respeito mútuo e direção segura para todos.

*Adalgisa Lopes é psicóloga especialista em Trânsito e Avaliação Psicológica e presidente da ACTRANS-MG