Por Fábia Mendes*
O Brasil está passando por um intenso e rápido processo de envelhecimento populacional. Segundo resultados do Censo 2022, o porcentual de pessoas com 65 anos ou mais no nosso País chegou a 10,9% da população, uma alta recorde de 57,4% frente aos números de 2010, quando os idosos representavam 7,4% do total.
Esse processo pode ser observado graficamente pelas mudanças no formato da pirâmide etária ao longo
dos anos, que segue a tendência mundial de estreitamento da base (menos crianças e jovens) e
alargamento do corpo (adultos) e topo (idosos).
Fonte: Projeções da população: Brasil e Unidades da Federação: revisão 2018
Esse cenário de ampliação da população idosa e o avanço na expectativa de vida nos sinaliza que cada vez mais idosos chegarão em nossas clínicas para processos de obtenção e renovação da carteira nacional de habilitação. E, principalmente, nos alerta sobre a importância da nossa contribuição não apenas para o contexto do tráfego, mas também para a saúde pública.
Nós, profissionais psicólogos peritos no trânsito, entendemos que o envelhecimento faz parte do ciclo da
vida e que pode ocorrer de forma saudável ou patológica. Sabemos também das bases cognitivas e comportamentos envolvidos no ato de dirigir. E, tão importante quanto, conhecemos a complexidade do ambiente trânsito e os números cada vez mais alarmantes de acidentes com óbitos e lesões.
Na avaliação psicológica de idosos realizamos um processo de investigação amplo, embasado na ciência,
proveniente de diversas fontes, dentre elas, testes, entrevistas, observação e análise de documentos. Estamos atentos com esse público no que se refere à escolha de instrumentos adequados para a avaliação de domínios cognitivos (atenção, memória, inteligência, funções executivas, etc.), desempenho em atividades de vida diária que demonstrem independência e autonomia, traços de personalidade e alterações de humor. Sabemos dos desafios de integrar todos os instrumentos e fazer um raciocínio clínico assertivo do candidato/condutor idoso, mas como em outras profissões, estamos no caminho da busca de aprimoramento de técnicas e conhecimento para essa demanda emergente.
Não temos dúvidas da nossa contribuição com a avaliação psicológica no contexto trânsito. Não fazemos
apenas testagem, fazemos processo! Testes psicológicos são apenas um dos recursos utilizados em uma
avaliação psicológica. E como todo processo válido de investigação priorizamos a coleta da história clínica atual e de desenvolvimento, fazemos observações de comportamento pautada em estudos técnico-científicos e não baseadas em “achismos”, utilizamos testes psicológicos e outros recursos pertinentes e, por fim, sugerimos condutas e intervenções. Nosso olhar se volta sempre para o compromisso do cuidado com a vida! Tendo cada vez mais um olhar diferenciado para a vida da pessoa idosa inserida no ambiente trânsito.
* Fábia é Especialista em Neuropsicologia, Psicologia do Trânsito, em Avaliação Psicológica, TEA, TDAH e outros transtornos do neurodesenvolvimento e em Gestão de Pessoas.