Uma pesquisa publicada na revista científica Frontiers in Cognition, revelou que a capacidade de atenção do ser humano caiu 70% nos últimos 20 anos. Enquanto éramos capazes de focar por até dois minutos e meio anteriormente, hoje conseguimos apenas 45 segundos. Essa redução drástica de atenção é atribuída ao bombardeio incessante de notificações de celulares, redes sociais e aplicativos de mensagens. “Antes, podíamos nos concentrar por mais tempo. Hoje, nosso foco é fragmentado, o que nos impede de manter a concentração em uma única tarefa”, explicou Adalgisa Lopes, psicóloga especialista em Trânsito e em Avaliação Psicológica e presidente da Associação de Clínicas de Trânsito do Estado de Minas Gerais (ACTRANS-MG).
A falta de foco e de capacidade de concentração reverbera em vários aspectos da nossa vida: atrapalha a produtividade no trabalho; dificulta a dedicação aos estudos e provoca um número cada vez maior de acidentes de trânsito. Dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF) revelaram que causas relacionadas à desatenção (reações tardias dos condutores) foram responsáveis por 30% dos sinistros nas rodovias até setembro de 2024. Dessas ocorrências, 24% resultaram em mortes e 29% em feridos.
Problema de saúde pública
No Brasil, a desatenção no trânsito é mais do que um simples desvio de foco; é uma questão de vida ou morte. Motoristas ansiosos, frequentemente expostos à urgência digital, tendem à impulsividade, o que os leva a decisões precipitadas e a condutas imprudentes, como dirigir em excesso de velocidade e desrespeitar as regras de trânsito. Não é à toa que o número de mortes e acidentes cresce ano a ano. “A desatenção está nos matando. E não estamos fazendo nada para mudar esse quadro porque a saúde mental ainda é negligenciada na nossa sociedade”, comenta Adalgisa.
Combatendo a desatenção
Apesar do panorama preocupante, explica a psicóloga especialista, existem maneiras de melhorar a atenção. Além das pausas no trabalho; do descanso; de reduzir o uso de telas; de respirar profundamente em alguns momentos do dia (o diafragma estimula o nervo vago que passa pelo crânio e promove relaxamento) e de tomar banhos demorados, Adalgisa recomenda ler, de preferência livros físicos; ouvir música com fone de ouvido e dançar.
A psicóloga salienta que a atividade física é a estratégia mais eficaz para recalibrar o sistema nervoso central e, assim, melhorar a atenção. “Treine também a mente, fazendo palavras cruzadas, sudoku, caça palavras, montando quebra-cabeças ou jogando o jogo da memória com as crianças e amigos. Jogos de cartas, tabuleiro, mímicas, não importa, desde que seja divertido e exija atenção. A competição estimulará a concentração e atenção”, detalha.
Outras recomendações da especialista são a conexão com a natureza e com amigos e familiares. “Próximos da natureza, temos a sensação de que o tempo passa mais devagar. Médicos japoneses recomendam caminhadas como antídoto para a vida agitada. Por outro lado, as amizades nos dão segurança, acolhimento, promovem nosso equilíbrio emocional e garantem maior longevidade”, conclui.