No primeiro semestre deste ano, o número de mortos em acidentes nas rodovias federais brasileiras cresceu 9%, enquanto o número de acidentes e de feridos subiu 8%. Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), foram registradas quase 4 milhões de multas no período, e 60% delas se referiam ao excesso de velocidade, prática que provoca os acidentes mais graves e letais.
A análise das principais causas desses acidentes indica que o comportamento do motorista brasileiro é um dos principais desafios para a segurança no trânsito. A falta de atenção, imprudência e o desrespeito à legislação formam um conjunto de fatores que contribui para um cenário de violência viária.
Segundo os dados da PRF, fatores relacionados à desatenção e ausência de reação do motorista, além da imprudência, são as cinco principais causas de acidentes. Em meio ao debate sobre a saúde mental que permeia o Setembro Amarelo, é preciso considerar também o impacto da saúde psicológica em outros aspectos da nossa vida, entre eles o trânsito. “Problemas de saúde mental podem interferir de forma prejudicial na atenção, no tempo de reação e na tomada de decisões quando ao volante”, afirma o psicólogo especializado em Trânsito Carlos Luiz Souza, vice-presidente da Associação de Clínicas de Trânsito do Estado de Minas Gerais (ACTRANS-MG).
A influência da saúde mental na condução segura é tamanha que todos que pleiteiam a concessão para dirigir precisam passar por uma avaliação psicológica para verificar se o candidato está apto a conduzir em segurança. “O Código de Trânsito também prevê que o motorista que teve a CNH cassada passe por uma avaliação psicológica, além da reciclagem sobre as regras de trânsito. Esse mecanismo não é aplicado por falta de regulamentação, mas existe justamente para aumentar a segurança viária”, comenta a psicóloga Adalgisa Lopes, presidente da ACTRANS.
Em setembro, campanhas para prevenir o suicídio se somam à Semana de Trânsito, que acontece entre 18 e 25, e tem como objetivo incentivar comportamentos seguros no trânsito. “Essas campanhas demandam atenção sobre a saúde mental, que permeia os dois temas. Dados do CVV indicam que pessoas que cometem suicídio frequentemente apresentam transtornos mentais, como a depressão, a dependência química e a esquizofrenia. Quanto ao trânsito, devemos considerar que a depressão, estresse e ansiedade são as principais condições que afetam a concentração e atenção, bem como podem estar relacionadas a comportamentos de risco como excesso de velocidade e condução perigosa”, observa o psicólogo especialista em Trânsito.
Para salvar vidas no trânsito, dizem os especialistas, precisamos investir em campanhas de conscientização, fiscalização mais rigorosa e, principalmente, na educação de base, formando condutores mais responsáveis e conscientes. Além disso, é imprescindível cuidar da saúde mental do brasileiro. “Vidas perdidas no trânsito ou por meio dele acendem o alerta sobre a relevância da saúde mental. A autopercepção sobre os próprios limites e potencialidades para superar situações difíceis, além do autocuidado e cuidado com o outro, são fundamentais para uma vida mais saudável e segura. E isso vale para o trânsito também”, completa Souza.
Sobre o Setembro Amarelo
O movimento Setembro Amarelo é uma campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio. A cor amarela foi escolhida em homenagem a Mike Emme, um jovem que tirou a própria vida em 1994 e era conhecido por seu Mustang amarelo. Seus amigos distribuíram cartões com fitas amarelas após sua morte, simbolizando esperança e apoio. A campanha visa sensibilizar a sociedade sobre a importância de discutir o tema e promover a saúde mental.