Uma morte a cada 90 minutos em acidentes nas rodovias federais

Uso de celular ao volante dispara e acidentes causados por desatenção desafiam segurança no trânsito

Entre janeiro e setembro deste ano, 16 pessoas morreram em 196 acidentes ocorridos todos os dias nas rodovias federais brasileiras. Cerca de 30% destas ocorrências tiveram como causa a desatenção dos motoristas. Os dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF) revelam que a saúde dos motoristas brasileiros é um dos maiores desafios para reduzir o número de mortes e feridos em incidentes que poderiam ser evitados. 

Especialistas em segurança viária destacam que um dos maiores vilões da preservação de vidas no Brasil tem sido os celulares. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), usar telas ao volante quadruplica os riscos de acidentes. Levantamento da fintech Zapay reforça a preocupação dos especialistas: o uso de celular ao volante cresceu 157% nos primeiros nove meses de 2024, na comparação com o mesmo período de 2023. “A dependência tecnológica, alimentada por mecanismos de manipulação e persuasão das mídias sociais, transforma o ato de dirigir em uma atividade perigosa. O uso de telas afeta nosso corpo e nossa mente de várias formas. Compromete o nosso sono, nos deixa mais sedentários e aumenta nossa ansiedade. No trânsito, isso significa menos foco e atenção e mais imprudência e agressividade”, comenta a psicóloga especialista em Trânsito e presidente da Associação de Clínicas de Trânsito do Estado de Minas Gerais (ACTRANS-MG), Adalgisa Lopes.

Tecnologia a serviço da vida
A boa notícia é que, enquanto o comportamento das pessoas não muda, a tecnologia ajuda na prevenção. Uma nova geração de radares equipados com inteligência artificial e câmeras de alta resolução, que detecta não apenas o excesso de velocidade, mas também o uso de celulares é um alento na busca por mais segurança.

Os novos radares, instalados em rodovias como a Comandante João Ribeiro de Barros (SP-225) e a Washington Luís (SP-310), utilizam o efeito Doppler para medir a velocidade dos veículos e inteligência artificial para identificar automaticamente infrações, como o uso de celulares, avanço de sinal vermelho e falta de cinto de segurança. As multas são emitidas em tempo real, sem intervenção humana, garantindo que as infrações sejam tratadas com a seriedade que merecem.

A epidemia da desatenção
A mudança de comportamento impulsionada pela internet criou uma geração de dependentes tecnológicos e de ansiosos. Adalgisa explica que as notificações funcionam como pequenas doses de dopamina, que provocam prazer instantâneo. Segundo a especialista em segurança viária, o uso de celulares ao volante não apenas provoca distrações diretas, mas também contribui para um estado de ansiedade e desatenção entre os motoristas. “A pessoa que faz uma pausa na atenção que deveria estar direcionada ao trânsito, ao retomar a atividade anterior, já está com o foco comprometido”, alerta.

A psicóloga especialista em trânsito, Giovanna Varoni, destaca que a ansiedade, intensificada pelo uso excessivo de telas, compromete a concentração e as habilidades cognitivas dos motoristas. “Motoristas ansiosos são mais impulsivos e têm 20% mais chances de se envolver em acidentes”, explica.